terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pe. Júlio Maria, "servo de Deus": como assim?

Frt. Matheus R. Garbazza, SDN

Desde o seu início, professando cheia de fé, a Igreja reconhece Jesus Cristo como o “Mestre e modelo divino da perfeição, celebrado juntamente com o Pai e com o Espírito Santo como o ‘único santo’”, conforme diz o Papa João Paulo II[1].

Esse mesmo Jesus deixou aos seus discípulos o preceito de imitar a perfeição do Pai, reproduzindo em seu agir a justiça de Deus. Para que pudessem cumprir bem esse propósito, Jesus enviou o auxílio constante do Espírito Santo, garantindo a perseverança no amor a Deus e na comunhão fraterna.

Sem demora, alguns dos seguidores de Cristo se destacaram no seguimento profundo do Divino Mestre: seja com a prática heróica das virtudes, seja com a graça do Martírio pelo Reino de Deus.

A esses, a Igreja sempre venerou juntamente com a Virgem Maria e os santos anjos de Deus. Ao mesmo tempo, “implorou devotamente os auxílios de sua intercessão”, no dizer do Papa João Paulo II.

Cumprindo sua missão de ensinar, santificar e governar o povo de Deus, a Igreja propõe tais homens e mulheres – os santos e santas -  à veneração dos fiéis, para que como modelos sejam auxílio para que também nós possamos chegar à glória celeste.

Deus não quis salvar os homens individualmente, sem vínculos uns com os outros, e desde o tempo antigo escolheu para si um povo – Israel – que é a prefiguração da Igreja universalmente aberta a todos os povos. Assim a Igreja, “comunidade consagrada daqueles que, crendo, voltam seu olhar para Jesus, autor da salvação e princípio da unidade e da paz”[2] entende-se como “Mãe dos Santos”, pois é dentro dela que os homens e mulheres se santificam.

Por isso, em relação ao reconhecimento de uma pessoa como tendo vivido em grau admirável o seguimento de Jesus, “ao longo dos séculos os Romanos Pontífices preocuparam-se em emanar normas adequadas para facilitar a obtenção da verdade numa matéria de tão grande importância para a Igreja”[3]. A última legislação nesse sentido provém do Papa João Paulo II e, mais recentemente, da Congregação das Causas dos Santos durante o pontificado de Bento XVI.

Observando a vida do grande missionário Padre Júlio Maria De Lombaerde, percebemos nele essa vivência fiel do seguimento de Jesus e da prática heroica das virtudes evangélicas – sacerdote ardoroso que foi. A isso a Igreja dá o nome de “fama de santidade”. Além disso, são numerosos os testemunhos de graças e milagres alcançados de Deus pela intercessão do Pe. Júlio Maria, ao que a Igreja nomeia de “fama de sinais”.

Quando percebe-se numa pessoa essa fama de santidade e de sinais, é possível abrir o que comumente se chama de “Causa de Beatificação”, para que seja atestada a santidade daquela pessoa. E durante muitos anos o desejo de instaurar a causa do Pe. Júlio Maria ficou latente nas suas Congregações e no povo de Deus sem que, por dificuldades diversas, isso tivesse sido possível.

Entretanto, após a posse de Dom Emanuel Messias como Bispo de Caratinga, em 2011, e após a celebração do centenário de chegada do Pe. Júlio Maria ao Brasil, em 2012, esse desejo se tornou mais forte e passou a ser mais viável. Contando com amplo apoio popular e dos religiosos, as Congregações fundadas pelo Pe. Júlio constituíram uma equipe para encaminhar os trabalhos, tendo o Pe. Heleno Raimundo da Silva, SDN, como responsável. Para representar o processo junto à Cúria Romana estamos contando com o trabalho do advogado eclesiástico Dr. Paolo Vilotta, responsável por diversas causas semelhantes no Brasil.

Enfim, depois de quase um ano do andamento dessa fase preliminar junto às autoridades romanas, chega-nos da Santa Sé Apostólica a autorização para a implantação da fase diocesana do processo de beatificação.

Segundo as normas da Igreja, “É chamado Servo de Deus o fiel católico do qual já se iniciou a causa de beatificação e canonização”[4].

A partir de agora, portanto, inicia-se o processo de beatificação do Servo de Deus Padre Júlio Maria De Lombaerde.

Esse título, portanto, marca apenas o início de um longo e árduo trabalho de investigação cheio de minúcias acerca da vida, dos feitos e escritos do servo de Deus. Para termos uma ideia da delicadeza dessa investigação, todos os seus quase 100 livros terão que ser examinados um a um por um perito teólogo. Além disso a investigação conta com promotores eclesiásticos, peritos doutrinais, médicos periciais, e tantos outros – além das testemunhas (oculares e históricas).

A nossa parte, a partir de agora, será rezar mais ainda para que esse santo homem possa ser colocado como exemplo para toda a Igreja, a fim de que sua intercessão seja invocada por todos nós com confiança renovada. Temos a oração pela beatificação, que pode ser rezada por todos.

Além disso, todas as pessoas que obtiverem de Deus uma graça ou milagre alcançado por intercessão do Servo de Deus Padre Júlio Maria, pode e deve comunicar à Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, por meio do Pe. Heleno, SDN[5].

Nesse caminho, lembramo-nos sempre da figura maternal de Maria Santíssima, Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, que (juntamente com seu servo dileto Pe. Júlio Maria e todos os santos e santas de Deus) nos mostra o caminho mais seguro para o seguimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, Filho de Deus. Assim seja!


[1] Sua Santidade, Papa João Paulo II. Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister, 25 de Janeiro de 1983.
[2] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 9.
[3] Congregação das Causas dos Santos. Instrução Sanctorum Mater, 17 de maio de 2007.
[4] Congregação das Causas dos Santos. Instrução Sanctorum Mater, artigo 4, § 2.
[5] O contato pode ser feito pelo e-mail [beatificacao@padrejuliomaria.com] ou para o endereço: Praça Bom Jesus, 38 – Centro. Manhumirim-MG. CEP 36970-000.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Aos pregadores, uma simples observação

Pe. Júlio Maria De Lombaerde, SDN

Tem-se escrito muito sobre a eloquência, do ponto de certas pessoas julgarem que a arte da eloquência consiste em escrever um belo discurso, em decorá-lo e recitá-lo com firmeza.

A verdadeira eloquência não consiste nisso; ela vem de mais alto, de mais longe. Para o êxito duas qualidades são exigidas da parte do pregador e duas da parte do discurso.

I - Da parte do pregador

O pregador deve estar convicto do que diz e deve amar as pessoas que o escutam. A convicção pessoal do pregador é o primeiro elemento do bom resultado na pregação. Tal convicção se manifesta desde o princípio, pelo tom incisivo e firme, com que se enuncia o assunto. É preciso lançar a verdade de um só jato, em palavras firmes e fortemente destacadas.

A convicção dá algo de vigoroso, de penetrante, que fixa o espírito do auditor e o excita ao desejo de conhecer, mas a fundo, a verdade.

O amor ao auditório é o segundo elemento do sucesso. É preciso que o auditor sinta que o pregador quer fazer-lhe bem.

Trata-se de ganhar os corações e entrega-los a Deus. Só a caridade sabe descobrir os caminhos misteriosos, que conduzem ao coração.

É sempre eloquente quem quer salvar as almas. É sempre escutado com satisfação, quem ama. É o segredo da palavra viva e eficaz. Aí está a magia da eloquência sacra! Que belo exemplo nos oferece São Paulo!

A sua pregação é a efusão de uma alma repleta de caridade e de verdade, destacando, habilmente, os vícios e os erros das pessoas, fulminando o mal e estendendo a mão paternal aos que o cometeram.

II - Da parte do discurso

A popularidade:

O discurso deve ser popular e claro.

O sacerdote é o homem do povo, e a sua palavra deve ser compreendida por todos.

A eloquência acadêmica é profanação da eloquência sacra.

O grande modelo a imitar é, e sempre será, a palavra de Jesus Cristo.

Nunca homem falará melhor do que aquele que mais se aproximar da linguagem de Jesus Cristo.

A clareza:

É a segunda qualidade do discurso: clareza na expressão e no sentimento.

O povo nada entende das abstrações especulativas da razão. É mister conduzí-lo do conhecido ao desconhecido, do sensível da religião às altas verdades dogmáticas. A palavra clara agrada a todos e faz o bem a todos, enquanto a fraseologia bombástica diverte alguns espíritos, mas não penetra no coração.

O tom narrativo é o mais claro e o mais compreensível para o povo: é uma espécie de dramatização da verdade a expor.

É o método do Evangelho... narra e discute pouco, expõe, torna a verdade sensível pelas comparações e parábolas e deixa ao ouvinte tirar a conclusão pessoal.

Preguemos o Evangelho com convicção e amor.

Seja a nossa palavra popular e clara.

E o êxito será esplêndido, ultrapassando toda expectativa.

(Fonte: O Evangelho das Festas Litúrgicas. Manhumirim: O Lutador, 1952. p. 5-6. )