domingo, 30 de janeiro de 2011

[Comentários Apologéticos] O Deus Criador

Festa do Natal (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)

Evangelho: Jo 1, 1-14

1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.

2. Ele estava no princípio junto de Deus.

3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.

4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.

5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

6. Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

7. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.

8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.

10. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu.

11. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.

12. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,

13. os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

14. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.

Comentário Apologético

O Evangelho da 3ª Missa é o grandioso e sublime início do Evangelho de São João.

Num vôo de águia celeste, João penetra a eternidade, e ali contempla o Verbo de Deus, dizendo que por Ele tudo foi feito, e que é Ele o Deus Criador de tudo o que existe.

Depois desce num relance, da luz suprema da glória, até as trevas deste mundo, e inclinando-se sobre o presépio onde está sentada uma criancinha, o Evangelista exclama: O Verbo se fez carne e habitou entre nós.

Isto é: O Criador de tudo o que existe, está ali deitado, numa gruta, feito homem.

Contemplemos hoje este sublime assunto, em continuação da existência de Deus, que já provamos. Vejamos:

1º que Deus é Criador;

2º É o governador de tudo.

I – Deus é o Criador

A palavra Criador, aplicada a Deus, significa que Deus, por um efeito da sua onipotência, fez existir o que não existia: o firmamento com seus astros luminosos, a terra com suas produções, numa palavra: o universo.

O artista faz uma estátua de um bloco de mármore, porém, nunca fará uma estátua de mármore, sem mármore.

O homem apenas modifica, arranja; somente Deus pode criar.

O mundo não é eterno: isso salta aos olhos ao primeiro aspecto.

O que é eterno é necessariamente: imutável, necessário e independente.

Ora, nenhum desses atributos convém ao mundo.

Vemos que o universo está em mudança contínua, pela forma e pelas qualidades, enquanto a essência do ser eterno é ser sempre o que é, sem se poder mudar, aumentar ou diminuir. O eterno é sempre o que é.

O universo não é necessário, pois um ser necessário não pode ser concebido como não existente.

Ora, concebemos perfeitamente a não existência do universo, enquanto não se pode conceber a existência de um primeiro ser, princípio e causa de tudo.

Logo, o universo teve princípio, foi criado.

Um ser necessário deve ser independente, isto é, deve possuir em si mesmo e por si mesmo tudo o que lhe é necessário, não recebendo nada de inguém, nem precisando de ninguém, e continuando a existir, mesmo se fora dele nada mais existisse.

Ora, o universo não tem essa independência absoluta. Podemos conceber a idéia do seu aniquilamento. Logo, não é necessário: foi criado.

E o Criador de tudo o que existe fora dele, é Deus.

Só Deus é o Criador. Ele é também o Senhor de tudo o que existe, pois Deus devia, criando, propôr-se um fim digno de si:

Este fim é a sua própria glória, como fim principal; e a felicidade dos seres racionais, como fim secundário.

II – O Deus Governador

Não somente Deus Criou, mas governa tudo; e este governo chama-se: a Providência.

Que se diria de um artista que, tendo criado uma obra prima de pintura ou de escultura, ficasse completamente indiferente para com ela, recusando a ocupar-se dela, não tomando as precauções para que não fosse destruída?

Que se diria de um roceiro, que compresse um terreno fértil, e depois o abandonasse sem cultura?

Seria ambos insensatos.

Deus é nosso criador; nós somos a sua propriedade, o seu bem.

Sendo Deus sapientíssimo, não pode desinteressar-se de nós, que somos a sua obra.

Na terra, muitos homens desejam ocupar-se mais das coisas de que estão encarregados, porém não o podem por fata de tempo, de força, etc.

Para Deus tal obstáculo não existe.

Ele vê tudo: logo, está a par de tudo.

Ele é infinitamente bom: logo, quer prover nas nossas necessidades.

Ele é todo-poderoso: logo, pode valer-nos.

Todas as perfeições de Deus exigem que se ocupe de nós, que não nos abandone, depois de nos ter criado, mas preveja as nossas necessidades e proveja a tudo.

Prever e prover; é da união destas duas palavras que vem o belo nome de Providência – providere.

Deus é ainda infinitamente justo.

Ora, a justiça exige que o bem seja recompensado e que o mal seja castigado: último motivo porque Deus não deixa a humanidade correr sem amparo, mas se faz o seu Governador, Excitador e Moderador, antes de ser o seu Juiz Supremo.

III – Conclusão

A Providência de Deus é, pois, Deus conservando e governando o mundo por ele criado, e conduzindo todos os seres ao fim que Ele, na sua sabedoria, predeterminou.

Não é propriamente um atributo divino, desde que implica a criação, mas é antes: o conjunto dos atributos de Deus: ciência, sabedoria, poder, bondade, justiça, aplicados à regência do universo.

Não objetem a existência do mal neste mundo. Sim, o mal existe, e deve existir.

Há o mal moral, ou o pecado. Deus não o quer, mas deve permití-lo, porque criou o homem livre, e o homem, a menos se deixar de ser livr, pode abusar desta liberdade e cometer o mal moral. Não pode ser imputado a Deus, mas unicamente a nós.

Há o mal psíquico. É também inevitável, porque Deus criou o homem mortal. Ora, todo ser mortal, tende à decomposição... gasta-se, estraga-se, debilita-se. Ora, se tal debilitação, tal estrago causa, necessariamente, o sofrimento. É uma condição de nossa vida.

Há desigualdades sociais, e deve haver. Pois, como deveria haver ricos, se não houvesse pobres? Como poderia haver grandes, se não houvesse pequenos? Como poderia haver montanhas, se não houvessem vales?

Deus deve permitir tudo isso; mas sabe tirar o bem do mal. São meios se expiação e de merecimento para conquistarmos a felicidade eterna.

EXEMPLOS:

  1. No leme

Num navio, no meio de horrível de horrível tempestade, os passageiros lançavam brados de aflição: só um menino de 12 anos permanecia calmo. Como todos ficassem admirados:

-Nada tenho a recear, disse ele, é meu pai que está no leme.

Porque temer? É o bom Deus qe tem nas mãos o leme desse mundo. Confiemos-lhe também o leme da nossa alma, e Ele nos fará alcançar o céu.

  1. Apólogo de Tolstoï

Ouvem-se bastantes vezes murmúrios contra a Providência de Deus. Provém geralmente da falta de reflexão, de não compreendermos o que Deus nos outorgou, e de vermos apenas o que nos falta.

Tolstoï tem este expressivo apólogo a respeito:

“Um homem, descontente da sua sorte, queixava-se de Deus.

-Deus, disse ele, dá as riquezas aos outros e a mim não dá nada! Como posso iniciar a minha vida, não tenho nada?

Um ancião ouviu estas queixas.

-És tu tão pobre como pensas? -respondeu- Deus não te dá saúde e força?

-Não, digo que não, e ufano-me da minha saúde e força.

- Queres deixar cortar a tua mão direita por um conto de réis?

-Ah! Isso nunca! Nem por dez contos!

-E a mão esquerda?

-Nem esta!

-E os pés?

-Deus me livre! Por dinheiro nenhum!

-Olha, ajuntou o ancião, que fortuna Deus te Deu, e estás te queixando!”

  1. A Lua

A torto e a direito, os homens reclamam contra a Providência de Deus.

É pena não terem estado presentes quando Deus criou as coisas. O verão é qiente demais, o inverno tem um frio insuportável... É um capítulo que convém não começar, pois não acabaríamos.

Lembro-me de ter lido outrora num jornal esta palavra espirituosa de um bebê de 3 anos de idade. O bebê estava com a mamãe, no jardim da casa, ao cair da noite, para colher umas flores. A lua estava no quarto crescente. O bebê olhou espantado e disse à sua mãe: “mamãe, olhe lá em cima! O bom Deus não teve tempo hoje de acabar a lua”.

“Nós somos homens, mas falamos às vezes como bebês. Quantas luas encontramos que o bom Deus não teve tempo de acabar.”

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Encontro Eucarístico

(Meditação do Evangelho segundo Lucas, 2,42-52)

DSCN7326É uma cena encantadora que o Evangelho nos apresenta, cena da união íntima e amorosa que une os três membros desta família divino-humana, composta por Jesus, Maria e José.

Todos haviam ido à Jerusalém para assistir à festa da páscoa. Voltaram para Nazaré, eis que Maria Santíssima, indo com as demais mulheres, e José no grupo dos homens, ao se encontrarem no fim da primeira jornada, verificaram a ausência do Menino Jesus, que não se achava em nenhum dos grupos.

Voltaram pressurosos e tristes para Jerusalém, à procura de Jesus, e eis que o encontraram no templo, no meio dos doutores da lei.

O lugar onde se encontra Jesus é o templo, é o sacrário bendito, onde Ele fixou sua morada, onde Ele reside, e onde quer ser procurado e pode ser encontrado. Ele está ali verdadeiramente presente, a espera dos que o procuram.

Sirva-nos de exemplo Maria Santíssima e São José. Primeiro na procura de Jesus e segundo no encontro de Jesus.

A PROCURA DE JESUS

E como devemos procurá-lo? Pela visita amorosa. Deus longínquo, cuja imagem não podemos delinear em nosso espírito, nos aparece em Jesus Eucarístico, perto e visível.

Jesus possui todas as aspirações da nossa natureza: Ele é homem; e todas as aspirações da Santidade: Ele é Deus.

Nele encontramos um Deus capaz de chorar, de sorrir, de abrir-nos os braços e de apertar-nos contra o seu coração.

Oh anjo, indicai-nos onde Ele está mais perto, mais visível... Para irmos até ele!

Olha acolá... Esta Igreja... Perto de ti... Ó alma: é ali tua morada! Tu o percebes de longe... Tu o encontras ao passar de frente. A qualquer hora tu podes visitá-lo: ali, os teus passos ecoarão no silêncio... Nenhuma voz importuna perturbará o teu colóquio com Ele! Uma pequena lâmpada, de luz tímida, tal uma estrelinha no céu, guiar-te-á e, na pobreza de um estreito tabernáculo, tu encontrarás Jesus.

Ele está aí, aquele que a Virgem santa carregava em seus braços maternos... Aquele que o Pai eterno conserva sentado a sua direita!

Ajoelha-te: pois Ele é Deus! Fala-lhe com teu coração: pois Ele é nosso irmão! Conta-lhe as tuas penas: pois Ele é amigo! Expande a tua generosidade: pois Ele é grande! Implora a sua misericórdia: pois Ele é bom! Envergonha-te das tuas misérias: pois Ele é puro!

Fala-lhe da vida dele, de outrora, de seus trabalhos, de seus ensinos, de seus sofrimentos... Fala-lhe daqueles que o amaram e o amam ainda hoje: Ele se sentirá consolado em seu abandono.

Sai, depois, um instante, em espírito, do estreito espaço e contempla este grande Deus, atravessa o espaço e contempla-O o no céu. Oh! Como Ele é belo, grande, feliz... Alegra-te de tanta grandeza, e das adorações que envolvem o seu trono na glória.

Lembra-te que o teu lugar é ali com estes anjos; perto dele... E que Ele te fita com o seu olhar amoroso. Não é assim que fazem os amigos na terra?

O ENCONTRO DE JESUS

E como encontrar Jesus? Pela Sagrada Comunhão. Amanhã este altar solitário se tornará um Calvário. O sacrifício real se efetuará, e Jesus abrirá de novo as fontes das suas sagradas chagas, para comunicar as suas graças às almas que dela se aproximarem.

Quando uma alma piedosa se aproxima do tabernáculo, para adorar o divino hóspede, Jesus fica-lhe sorrindo ternamente; mas quando esta alma se aproxima da Mesa da Comunhão, o divino menino, velado pelas aparências da hóstia, estende os bracinhos ao que vai recebê-Lo.

Que alegria para Ele, quando chega o momento da Comunhão, quando ouve ranger a chave do tabernáculo; quando a sua prisão se abre!  Não pode conter-se.

O sacerdote não se apressa bastante, e às vezes a hóstia sagrada escapa das suas mãos e voa até os lábios do comungaste: Jesus tem fome de ser comido: tomai e comei, este é o meu corpo!

O fim da Eucaristia é alimentar. Ora, alimentar é dar mais vida. Recebendo mais vida temos mais ser, e na medida que cresce nosso ser espiritual, Deus se estende nele mais largamente, ampara-se nele mais fortemente, e une-se com ele mais intimamente.

Pela Sagrada Comunhão recebemos realmente o corpo de Jesus Cristo, porém o que assimilamos é qualquer coisa da sua vida divinizada. Digamos melhor: é esta própria vida que se apodera de nós, como o oceano se apodera de uma gota d’água caída em sua imensidade, incorpora-a, absorve-a; somos como absorvidos pela divindade.

Como são sublimes estas coisas: procurar e encontrar Jesus - é unir-se com Ele.

O evangelho nos indica a aflição com que Maria e José procuravam Jesus perdido. Esta aflição deve ser a nossa por termos vividos tantos anos, sem bem compreendermos a desgraça de termos perdido este Jesus, e sem tê-Lo procurado onde Ele está: em seu tabernáculo de amor.

O mesmo evangelho indica a alegria sobrehumana dos santos esposos, ao encontrarem o seu tesouro no templo.

Possamos, como eles, encontrar muitas vezes este mesmo Jesus, no fundo deste tabernáculo, donde Ele quer sair para encontrar nossos corações; para tomar posse da nossa alma, uní-La a sua natureza divina, transformá-la pela sua graça para que seja um só com Ele - Tu em nós e nós em ti! Para que esta união, começada aqui nas trevas, no exílio, possa estender-se até a glória da pátria celeste.

Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Comentário Eucarístico do Evangelho Dominical, p. 75-82
In Mistagogia Eucarística do Pe. Júlio Maria, p. 27-31

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

8 – Últimos Dias; Falecimento

Tanto trabalho e tanta dedicação marcaram suas Congregações assim como a população da paróquia. Mas, por outro lado, iam-lhe desgastando a saúde. Não era velho. Tinha apenas 66 anos. Estava longe de dar mostras de decrepitude. Entretanto, em 1944, começou a falar da morte próxima. Começou a preocupar-se com a sucessão. Resolveu ir preparando melhor aqueles que poderiam continuar sua obra. A Congregação, porém, era muito nova: tinha apenas 15 anos e começara do nada. De qualquer maneira, o Fundador dizia aos noviços antes do último retiro pregado à comunidade (de 11 a 19/12/1944): "Quero fazer um ano de preparação para a morte. Sinto que não irei muito longe." Fazia, então, freqüentemente, menção à morte e ao céu. Cinco dias antes de morrer, eram indescritíveis os carinhos paternais e a expansão com que tratava seus filhos espirituais.

No dia 24 de dezembro de 1944, domingo, celebrou a missa das 5h 30min na Matriz do Bom Jesus, Manhumirim, estimulando todos a uma fervorosa comunhão naquela noite do nascimento de Nosso Senhor. Lá pelas 7h, partiu de automóvel para a fazenda S. José, em Vargem Grande, propriedade que ele adquirira recentemente para ajudar na manutenção do Seminário. Viajaram com ele três Irmãs Sacramentinas que iam conhecer o local de uma futura residência e escola, para as crianças da Vargem Grande. Um dia dedicado ao trabalho pastoral e à preparação da nova casa das Irmãs.

À tarde, quando ia voltar para Manhumirim, o tempo chuvoso e a estrada de terra escorregadia não aconselhavam que fizessem a viagem. Ele, porém, achava que deveria ir, por ser véspera de Natal, e ele iria celebrar a missa da meia-noite. Saiu apesar do risco. Provavelmente não avaliasse o tamanho do perigo, porque não era motorista e andava muito pouco de carro. O motorista, por sua vez, era jovem e inexperiente e não teve coragem de enfrentar a ordem do Pe. Júlio Maria, que fez questão de descer a serra. Aconteceu o desastre, o carro capotou duas ou três vezes na ribanceira e o Pe. Júlio ficou preso entre a ferragem do automóvel e um tronco de árvore. Os outros passageiros e o chofer não sofreram praticamente nada, fisicamente.

Mas o padre não conseguiu libertar-se, e, comprimido, ia sendo sufocado, sem ar. Resistiu ainda algum tempo, pedindo que providenciassem alguém que o pudesse tirar dali: "Depressa, depressa, minha filha!" - dizia ele a uma das Irmãs. Mas o socorro veio tarde demais. E ele morreu, pronunciando estas palavras: "Meu Deus, meu Deus! Nossa Senhora do Carmo! Meu Deus!"

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Das devoções e de sua escolha

I. Devoções

A respeito das devoções, outra ilusão existe.

Pessoas há que atribuem a tal ou tal devoção um poder ex opere operato, isto é, uma virtude própria que sempre produz seu efeito, como uma determinada planta medicinal tem sua eficácia especial.

A devoção não é isto; é uma disposição da alma, que nos leva a dedicar-nos ao serviço de Deus, pelo cumprimento do nosso dever.

A devoção tem por objeto imediato a própria divindade, sendo objetos mediatos a Santíssima Virgem, os santos, etc., de modo que toda devoção verdadeira nos deve aproximar de Deus e tornar-nos mais decididos no serviço d’Ele.

Entre as devoções mediatas ocupa lugar de destaque a devoção à Santíssima Virgem: é a devoção das devoções.

Pode ela revestir-se de um número infinito de aspectos, conforme os tempos, a situação e as disposições das pessoas.

II. A escolha

Há na Igreja muitas devoções, todas dimanadas do coração dos santos, e muitas vezes, ensinadas por Jesus Cristo ou Maria Santíssima.

Sendo aprovadas pela Igreja, Mestra infalível da verdade, todas elas são boas, santas e santificantes, em geral; nem sempre, porém, se adaptam às situações ou disposições particulares de cada um.

Não se podendo adotar tudo, impõe-se a necessidade de uma escolha judiciosa.

Em tal escolha, é preciso procurar principalmente a santificação pessoal ou a alheia.

Tanto melhor é uma devoção, quanto mais nos ajude a santificar-nos e a glorificar a Deus. Não é o sentimentalismo que devemos consultar; é o bem da nossa alma.

Examinando a devoção à Mãe de Jesus, encontramos um número quase incalculável de invocações. Maria Santíssima é uma só, mas é invocada sob centenas de títulos, sendo cada título a expressão de um privilégio seu, de alguma virtude ou ofício.

Para os que sofrem, Ela é Nossa Senhora das Dores.

Para os pecadores, é refúgio dos pecadores.

Para os desesperados, é a Mãe da misericórdia.

Para as criancinhas, é a Mãe da bondade, a Rainha das Virgens, e nos tempos de perturbação, Ela é a Rainha da paz.


Pe. Júlio Maria de Lombaerde

Em "O Segredo da Verdadeira Devoção à Virgem Maria"

sábado, 22 de janeiro de 2011

O Segredo da Verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria

Esse livro escrito pelo Pe. Júlio Maria trata-se de um comentário expositivo da doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort, grande devoto da Santa Mãe de Deus. Traremos ao blog algumas partes desse livro que busca instruir o leitor na busca da santidade pela devoção à Maria Santíssima.

Por hora, as partes introdutórias do livro:

Nihil Obstat

Manhumirim, 6 decembris, 1942

Pe. Dr. José de Castro

Censor

Imprimatur

Caratingen, 11 februari, 1943

+ Joannes Cavati

Episc. Caratingensis

Reimprimatur

Caratinga, 13 de maio de 1961

+ José Eugênio

Bispo de Caratinga

DECLARAÇÃO DO AUTOR

Conforme os decretos da Santa Sé, declaro que, se neste livro, dei a alguma pessoa virtuosa o título de Santa ou Bem-Aventurada, foi, unicamente, em testemunho de veneração, e não com a intenção de prevenir o julgamento da Santa Igreja.

Do mesmo modo, as graças ou fatos extraordinários citados têm, apenas, autoridade humana, fora do que foi aprovado pela mesma Santa Igreja, a cujo juízo infalível submeto sem reserva alguma, minha pessoa, minhas palavras e meus escritos.

PARECER DO EXMO. SR. CENSOR DA DIOCESE

Lendo atentamente a obra: “O Segredo da Verdadeira Devoção para com a Santíssima Virgem”, da autoria de

Revmo. Sr. Pe. Júlio Maria, S. D. N., não somente nada encontrei na mesma de censurável quanto à doutrina e aos costumes, como também pude julgar sobre sua grande atualidade e o grande proveito que de sua leitura e meditação pode advir às almas.

Portanto, com toda a consciência e imenso prazer, dou à mesma o meu Nihil Obstat.

Pe. Doutor José Rocha de Castro

Censor

INTRODUÇÃO

Destina-se o presente livro às almas, sinceramente desejosas de se santificar de modo eficaz.

Há, infelizmente, várias ilusões a respeito da santidade.

Uns pensam que ela consiste na duração das orações e no número delas... Outros põem-na nas grandes obras, que se empreendem. Outros, ainda, fazem-na estar numa espécie de isolamento de tudo e de todos... Outros, afinal, pensam que reside em tal devoção, em um determinado exercício, nesta confraria ou naquela leitura...

Tudo isto pode ser bom, porém é conveniente lembrar-se do velho adágio: “In medio stat virtus”. A santidade não está em tudo isto; mas tudo isto pode ser um meio de alcançar a santidade.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

7 – Crescimento das Congregações e outras atividades

Nesse meio tempo, a Congregação masculina do Pe. Júlio Maria, crescia e se espalhava por Minas Gerais. Os missionários estavam marcados pelo espírito de pobreza e desapego, por enorme disposição para o trabalho pastoral, e suas paróquias eram sempre movimentadas e piedosas, eucarísticas e marianas. Por seu lado, O LUTADOR se difundia pelo Brasil afora, entrava praticamente em todos os Estados, especialmente os do Sudeste e do Sul, e chegava a atingir mais de 900 cidades, levando o nome, as lutas, a doutrina do Padre Júlio Maria e aumentando seu prestígio no país.

Enquanto essas coisas iam acontecendo (e era muita coisa que acontecia em torno do Pe. Júlio Maria De Lombaerde), ele ia escrevendo e publicando, além do jornal O LUTADOR - que redigia praticamente sozinho e era, quase exclusivamente, uma folha religiosa e apologética para esclarecimento dos católicos diante das objeções ou ataques, por vezes violentos, dos "inimigos" da Igreja - muitos livros de apologética, mas sobretudo de espiritualidade ou doutrina mariana e eucarística. No jornal e nos livros que nasciam do jornal, Pe. Júlio utilizava um estilo polêmico, irônico, agressivo até, mais por motivo jornalístico, por causa do gosto natural que os leitores têm por esse tipo de literatura e que, de fato, acabou fazendo dele - segundo uma avaliação da Editora Vozes, naquela época - o autor católico mais lido no Brasil. É bom notar que as Vozes publicaram, nesse tempo, muitos livros do Pe. Júlio Maria e tinham dados comerciais para afirmar o que afirmaram.

Simultaneamente, o Fundador mantinha cerrada correspondência espiritual com seus religiosos e com as Irmãs Sacramentinas. Nessa época, estava impedido, por prudência e por obediência, de se corresponder com as que então chamávamos "as Irmãs do Norte". Essas Irmãs do Norte, ou seja, as Filhas do Coração Imaculado de Maria cresceram muito e se desenvolveram espiritual e materialmente, difundindo-se por várias unidades da Federação. Só depois da morte do Pe. Júlio, muitos anos aliás após sua morte é que começamos a nos relacionar mais freqüente e intimamente com elas. Hoje, somos cada vez mais uma família julimariana, formada pelas Filhas do Coração Imaculado de Maria (FCIM), as Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora e os Missionários de Nossa Senhora do SS. Sacramento.

Na década de 30, o Pe. Júlio Maria, enquanto construía o novo e grande prédio do Seminário Apostólico de seus missionários, sofreu muito por causa das perseguições político-religiosas, teve de assistir à invasão de sua gráfica e a seu empastelamento, e depois, sofreu anos e anos de censura prévia, durante a ditadura Vargas, que, de vez em quando, obrigava O LUTADOR a atrasar sua postagem e a refazer ou cortar textos já compostos laboriosamente, ainda na base do "tipo" catado a mão, um por um. Mas o jornal não deixava de sair afinal, embora às vezes com grandes tarjas negras, apagando textos censurados.

A Congregação se espraiou nesse tempo pelas Dioceses de Aterrado, hoje Diocese de Luz, MG, com o apoio e aprovação de Dom Manuel Nunes Coelho, então seu Bispo diocesano. Tivemos uma casa em Belo Horizonte e a paróquia de Cachoeirinha, ainda nos tempos de Dom Cabral. Nesse tempo, os nossos estudantes vieram cursar teologia no então grande e prestigioso Seminário Provincial do Coração Eucarístico de Jesus. Ainda nessa época, abrimos um Seminário Menor em Dores do Indaiá, e assumimos a paróquia aí e em Bom Despacho, ambas na Diocese de Aterrado (Luz), assim como a direção do Colégio dos Padres na cidade de Patos de Minas. A Congregação do Pe. Júlio Maria crescia e dava um belo testemunho de amor à Igreja, à Eucaristia e Maria Santíssima.

Uma atitude que distinguia as obras do Pe. Júlio: ele procurava não confiar nas seguranças humanas. Fazia questão de entregar tudo o que fazia à Divina Providência. Quando começou a construção do grande prédio do Colégio Pio XI, claro que tinha perspectivas financeiras. Mas não tinha tostão em caixa. E a obra não teve de ser interrompida nenhuma vez, por falta de dinheiro.

Apesar de sua nunca bem entendida sua paixão pela França (ele se dizia francês, apesar de ser belga e flamengo, falava com notável entusiasmo dos heróis franceses, da literatura francesa, da língua francesa que ele fazia questão de dizer que sabia, porque temos de conhecer "nossa língua"); apesar disso, quis se abrasileirar, desde os tempos de Macapá, no sentido que quis entender o povo, amar o Brasil e sua gente, fundar uma Congregação religiosa brasileira (a sua foi a primeira Congregação religiosa masculina brasileira e continuou sendo a única durante décadas). E mais que isso, em 1940 requereu sua naturalização. Ser brasileiro, deixar de ser francês, foi um grande sacrifício, um exercício de "kénosis", de esvaziamento afetivo por amor de Cristo, como um testemunho de despojamento pessoal em nome do amor ao povo ao qual dedicou praticamente toda sua vida sacerdotal. (Ele veio para o Brasil quatro anos apenas depois de ordenado padre, e nunca mais voltou à Europa, nem em visita, durante mais de 32 anos que viveu ainda.) O título de cidadão brasileiro lhe foi entregue solenemente em 31/10/1941, pelo Juiz de Direito de Manhumirim.

(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Realeza de Amor

Virgo1

“Maria é rainha, mas rainha de amor e misericórdia. Nela nada há de austero, nada de dominador. No seio de sua glória, ela se proclama “Serva do Senhor” e exalta aquele que nela fez “grandes coisas”.

Maria é rainha, porém, para nossa consolação, diz Santo Afonso de Ligório, ela é uma rainha cheia de doçura e de clemência, inteiramente disposta a espalhar seus benefícios sobre nossa miséria.

Segundo a observação de Santo Alberto Magno, o próprio nome de rainha desperta a idéia de compaixão, de solicitude em favor dos pobres, ao contrário do nome Imperatriz, que quer dizer severidade e rigor, pois vem do latim: imperare: mandar, ordenar.

Para termos a fisionomia exata desta rainha toda amante, é preciso, pois, representá-la, não nesta dignidade eminente, que lhe atrai as homenagens do universo, mas na ternura e na expansão do seu amor para conosco.[...]

Ela é rainha senão para amar mais, e serve-se de sua autoridade para assistir por toda parte a seus fiéis servos e prestar-lhes mil e um cuidados. [...] Estabeleçamos Maria como rainha do nosso coração, isto é, submetamos-lhe todas as nossas afeições, todos nossos desejos, todas as nossas aspirações.

Acima de qualquer outro amor, reine o amor de Maria em nós, domine em nós e nos faça agir sempre sob a inspiração, sob a influência e sob o olhar desta amável Mãe. [...] Querido irmão em Maria! Pertença à Virgem o nosso coração, pois o coração é o amor, e Maria é rainha do Amor.”

 

 

Pe. Júlio Maria De Lombaerde

A Virgem de Nazaré. pp. 61-64

In Maria Santíssima, Mãe e Mestra. Ed. O Lutador.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Especial 1º ano do 14º Capítulo Geral SDN


Durante a realização do XIV Capítulo SDN, diariamente, foram publicados os relatos dos acontecimentos. Os leitores podem conferí-los no sítio da Congregação:

> Primeiro Dia (11/01/2010)

> Segundo Dia (12/01/2010)

> Terceiro Dia (13/01/2010)

> Quarto Dia (dia da eleição - 14/01/2010)

> Quinto Dia (14/01/2010)


Como relatado, no dia 14 de janeiro do ano passado foi eleito do 10º sucessor do Pe. Júlio Maria de Lombaerde: O Revmo. Pe. Geraldo Magela de Lima Mayrik, sdn.

Pe. Mayrink nasceu em 25 de outubro de 1957, fez sua primeira profissão religiosa na Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora em 02 de janeiro de 1994. Ordenou-se presbítero em 05 de dezembro de 1982. Antes do Capítulo exercia a função de primeiro Conselheiro da Congregação, formador da Comunidade de teologia e pároco da paróquia São Bernardo, Belo Horizonte/MG.

Logo depois de eleito, o Superior Geral tomou posse na Capela da Visão Sacramentina, com a celebração da Benção do Santíssimo Sacramento. Diante do Santíssimo exposto o novo Superior professou a sua fé, como sinal de comunhão com toda Igreja. O gesto de tomar posse diante do Santíssimo Sacramento, para nós é muito significativo, pois a eucaristia para nós “é força e inspiração de nossa vida missionário-sacramentina (...). Ela nutre a nossa vida fraterno-apóstólica e nos impele para a missão...(Cons. 60). O novo Superior vai encontrar forças e discernimento para o exercício do seu ministério de dirigir a congregação na contemplação e vivência deste Mistério, fonte e ápice da vida cristã.


O novo Superior Geral no momento da Posse, dando a Bênção com o Santíssimo Sacramento do Altar.
Fazemos votos de que o Pe. Mayrink possa continuar firme no governo da Congregação, impulsionando-a sempre no espírito do Fundador.


Pro Catholica Societate

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

6 – Atividade paroquial do Pe. Júlio Maria; Fundação das Congregações Sacramentinas

Pe. Júlio era um homem diante do qual a gente tinha de tomar posição. A favor ou contra. Os paroquianos se entusiasmaram com o novo vigário. A Igreja encheu-se de fiéis. Cresceu a vida sacramental, sobretudo a vida eucarística. Organizou-se a Liga Católica para os homens, foi infundida vida nova às Filhas de Maria para as moças, à Congregação Mariana para os rapazes ou adultos de sexo masculino, os Vicentinos foram grandemente estimulados. Pe. Júlio fundou a Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. Depois, a Congregação das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora, pensando especialmente na educação da juventude feminina, na preparação das mães de família. Com o tempo, pensando no atendimento à saúde da população carente, juntamente com os Vicentinos, construiu o Hospital S. Vicente de Paulo. Diante da necessidade de preparar a juventude masculina para um catolicismo mais sólido e uma vida sócio-política mais consciente, fundou o Colégio Pio XI, que marcou época, não só na cidade, mas em ampla região, tendo mantido durante muitos anos um internato famoso, com alunos que vinham da redondeza, mas também do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Mais tarde ainda, fundou um Patronato Agrícola, uma casa de Aprendizado Doméstico e deu todo apoio aos Vicentinos na fundação e manutenção de um Asilo para inválidos.

Enquanto isso, entregava-se de corpo e alma à paróquia, à formação dos seminaristas e religiosos de sua Congregação, assim como, com a colaboração da Co-fundadora das Irmãs Sacramentinas, a Madre Beatriz Frambach, ia trabalhando incansavelmente na formação e desenvolvimento da nova Congregação feminina, que vicejava com força invejável, com frutos de piedade e santidade admiráveis.

Para homens como o Pe. Júlio Maria não faltam amigos nem adversários. Sua ação em Manhumirim não podia deixar de ter repercussão política. Fizeram tudo para envolvê-lo em lutas partidárias. Pe. Júlio não apenas não tinha ambições políticas, no sentido de poder e influência direta na condução da sociedade, mas só usava sua força em defesa dos interesses religiosos de seus fiéis. Mesmo assim, os Partidos se dividiram diante dele. Houve ameaças de todo o tipo e tentaram assassinar o Padre, num domingo, dentro da própria igreja.

Essas coisas, porém, não abalavam o Pe. Júlio, que parecia ter nervos de ferro. Nunca o víamos exaltado ou dando mostras de preocupação por causa dessas coisas. A vida, no Seminário, na Paróquia, na residência e no Colégio das Irmãs, continuava igual. A agitação ficava do lado de fora e passaria. Embora os mais informados soubessem que nem tudo estava num mar de rosas. As Irmãs sobretudo, com sua sensibilidade feminina, sofriam muito. Os políticos se agitavam e sempre que podiam, buscavam o apoio do padre. Se não conseguiam ou se encontravam resistência (o Pe. Júlio apoiava sempre os católicos - aqueles que ele julgava bons católicos), punham-se contra ele. O vigário jamais usava o púlpito para fazer campanhas partidárias ou pessoais.

De qualquer modo, o Fundador tinha o apoio indefectível de Dom Carloto, sempre firme, decidido, apesar de silencioso. Isto trazia ao vigário muita tranqüilidade. Mas em 1933, Dom Carloto morre no Rio. Pe. Júlio Maria fica sem sua cobertura tão importante. O sucessor do amigo, Dom José Parreira Lara, era também um homem de Deus, e embora tenha vindo para a Diocese de Caratinga trazendo na bagagem muitas denúncias e queixas contra o Pe. Júlio e sua Congregação, não pôde deixar de exclamar, depois da primeira visita ao Seminário de Manhumirim: "O dedo de Deus está aqui!"


(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Especial 1º ano do 14º Capítulo Geral SDN



Como já publicávamos aqui em 2009, os Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora realizaram, de 11 a 15 de janeiro de 2010 seu XIV Capítulo Geral Ordinário, em Manhumirim - MG.

Há um ano, portanto, iniciava-se esse importante acontecimento eclesial.

Pe. Demerval entronizando o quadro com o retrato do Pe. Júlio Maria

A programação do Capítulo pode ser conferida no sítio da Congregação, nesse link: [Sacramentinos.org]


À direita, Pe. Carlos Roberto Altoé, 9º sucessor do Pe. Júlio Maria, que convocou o XIV Capítulo Ordinário, ao lado do quadro do Fundador.

Ainda essa semana, os relatos de todos os dias do Capítulo.


Pro Catholica Societate

sábado, 8 de janeiro de 2011

Vida e Obra de Pe. Júlio apresentadas pelo Superior Geral SDN

Hoje, dia 8 de janeiro de 2011, é o 133º aniversário de batismo do Pe. Júlio Maria. A história do seu batismo já foi narrada aqui. Para comemorar esta data, que é significativa para a Igreja e para a Congregação, exibimos uma preciosidade: a vida e a obra do santo Fundador apresentadas pelo atual Superior Geral da Congregação.

Trata-se de uma reportagem exibida pela TV Catuaí, de Manhuaçu-MG. A repórter, Solange Malosto, foi a Manhumirim (sede da Congregação) conferir de perto a obra deixada pelo Pe. Júlio, e aproveitou para entrevistar ninguém menos que o Revmo. Pe. Geraldo M. L. Mayrink, sdn, Superior Geral dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. Tudo foi gravado logo nos primeiros dias do mandato dele como superior, ou seja, no princípio de 2010  - e diretamente do Seminário Apostólico Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.

A primeira parte mostra precisamente a parte mais importante daquela Casa: a capela, arquitetada pelo próprio Fundador. Lá se encontra a pintura com a “Visão Sacramentina”, que retrata um sonho do Pe. Júlio para as suas Congregações.

Depois, o padre superior apresenta a Sala Histórica Padre Júlio Maria, onde se encontram numerosos pertences e a história do grande missionário, retratada principalmente pelo grande painel com o mapa dos lugares missionados por ele. Ali se narra também os acontecimentos de sua morte, a 24 de dezembro de 1944. Logo em seguida, passam para o antigo quarto do Pe. Júlio, que contém seus pertences mais pessoais e sua biblioteca particular, que se encontra preservada. Alem de suas relíquias de primeira e segunda classe (ex ossibus, ex tela imbuta sanguine, ex habitu, etc).

Esperamos que nossos leitores possam apreciar essa apresentação bastante completa para o curto tempo de vídeo.

 

 Obervação: todos os créditos encontram-se no vídeo. Agradecimentos à TV Catuaí.

 

Em Cristo,

Pro Catholica Societate

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Carta ao Pe. Henrique, escrita de Bom Despacho-MG

Introdução: Cópia fiel da carta original que foi entregue pelo Pe. Henrique, sdn, ao Pe. Jayme L. Cançado, sdn. Os destinatários são o Pe. Henrique (ordenado em 1936 e, à época, substituto do Pe. Júlio na cura das almas da Paróquia de Manhumirim) e o Pe. José Batista (ordenado em 1938 e responsável pelos trabalhos da Editora O Lutador). A carta foi escrita pelo próprio Pe. Júlio Maria em Bom Despacho, onde esteve durante aproximadamente 20 dias, pregando retiros e visitando as residências das Congregações. Em itálico, algumas observações para compreensão.

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Bom Despacho, 15 fev 40

Meus queridos Pe. Henrique e José,

Um cordial abraço!

Devem quase estranhar o meu silêncio, não é? A razão é simples: não me sobra nem um instante.

Hoje acabei o 3º retiro, sendo cada um de 4 dias: Vicentinos, Senhoras [Associação das Mães Cristãs], Filhas de Maria e hoje começo o dos militares (soldados e oficiais). Vou pregar no salão do quartel.

De manhã até à noite, fico no confessionário no intervalo das instruções . Assim mesmo serve-me de férias, estou com a cabeça mais descansada, pois se não há ocupação não há preocupação.

Bom Despacho é esplêndido, povo católico, os padres muito queridos, a Eucaristia formando a base da devoção popular.

Amanhã devem chegar as irmãs.

Vou levá-las a São Gotardo, voltando por Dores, onde ficarei poucos dias. Aqui recolhi já algumas vocações para as irmãs, vou ver em Luz e Dores.

O Pe. Paulo é trabalhador admirável e incansável. O Pe. Thiago é muito benquisto pelo povo. Receberam-me como se fosse o Bispo. Todas as autoridades em pé, o batalhão com seu comandante, etc. - Não posso ainda marcar o dia da saída, mas avisarei a tempo. Preparem selas para fratres João e Dohr que voltam também para continuar os estudos.

Espero que os propagandistas tenham mandado dinheiro de modo a poder fazer os pagamentos correntes.

Creio que será bom fazer parar os pedreiros, desde que o prédio está coberto, conservando só os necessários e os serventes que Ariovaldo indicará.

Os carpinteiros podem fazer as duas escadas, de baixo até o primeiro andar - e do 1º andar até ao dormitório.

Devem colocar as esquadrilhas de portas e janelas e podem já rebocar o dormitório em cima.

Havendo dinheiro pode dar uns contos de reis a Nicolau Bracks.

Espero que os meninos [Apostólicos, os estudantes menores antes do Noviciado]vão todos bem ... Que os meus noviços rezem e se santifiquem... E que os teólogos estudem muito.

Iran(?) estava ainda aqui, mas já o mandei embora. é um louco. Não mande a máquina dele que ali está.

Penso que O Lutador vá bem, não é. O nosso Zeferino [Pe. José Batista, o destinatário] dará conta. Nem o tempo de lê-lo tenho.

Terminado o retiro dos soldados vou organizar as casas de São Gotardo, e ver se tenho tempo de voltar por Boa Esperança.

Um afetuoso abraço aos caríssimos padres Henrique e José e uma grande bênção para todos de casa.

Pe. Júlio Maria

PM - SDN

 

Carta Pe JulioDigitalização da última página da carta transcrita, com a assinatura do Fundador.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

5 - Chegada e primeiras atividades em Manhumirim

Em 29/02/1928, Pe. Júlio Maria embarca, afinal, para o Rio de Janeiro, onde se encontrou com Dom Carloto que o recebeu com o maior respeito e carinho e o levou para Caratinga. Pe. Júlio recusou a oferta de paróquias em cidades mais importantes e maiores. Fez questão de escolher Manhumirim, na época uma cidade pequenina, modesta, embora na Zona da Mata mineira, rica em café. Manhumirim lembrava ao Pe. Júlio a pequenez e o anonimato de Grave, na Holanda, onde o Fundador de sua Congregação, que ele amava tanto, quis começar a fundação. Ótimo lugar para uma instituição que precisava de aprender a amar e viver a pobreza e a humildade.

Pe. Júlio chegou a Manhumirim dia 24/3/1928. Hospedou-se com o Pe. La Barrera, vigário da cidade. Havia uma igreja nova em construção, construção que se arrastava havia longos anos. A vida paroquial, como um todo, ia no mesmo ritmo. O velho vigário, já cansado, não podia fazer muita coisa. Pe. Júlio ficou ali, procurando conhecer a situação, observando e aprendendo. Limitou-se, durante um mês e pouco, antes de tomar posse, a celebrar a missa, observar as coisas, planejar. A posse aconteceu em fins de abril.

Apaixonado por Nossa Senhora, quis marcar sua entrada na paróquia com um Mês de Maria vibrante, piedoso e muito bonito. Pediu que se improvisasse no interior da igreja nova, ainda em construção, um altar para coroação de Nossa Senhora. Movimentou as crianças e as famílias, que se sentiam renovados com a nova liderança paroquial. Os festejos entusiasmados em honra de Maria Santíssima preocuparam os protestantes, numerosos na cidade e no município, que reagiram, espalhando entre o povo um folheto contra o culto a Maria. Pe. Júlio resolveu aproveitar a ocasião e dar uma resposta séria e firme, baseada na teologia e na Bíblia. Usou para isso o jornal da cidade. Católicos e protestantes notaram logo que estavam diante de um líder, que não apenas fazia festas e celebrava missas, mas que tinha cabeça, tinha poder de fogo intelectual, manejava com segurança e facilidade a palavra escrita. Todos perceberam sua envergadura. Os católicos vibravam. Os protestantes sentiram o peso da mão do novo pároco e missionário.

Não eram tempos de ecumenismo, infelizmente. Eram, antes, tempos de polêmicas e anátemas. Em Manhumirim, as posições se definiram e se antagonizaram. Quem era católico, começou a ser mais firmemente católico; quem era protestante, maçom, espírita teve de se decidir. Não era mais possível ser católico e espírita, católico e maçom. Os protestantes, aliás, sempre foram claramente protestantes. Estávamos diante de um catolicismo militante, aguerrido. Certamente, houve nisso coisas boas e más. Não nos compete aqui nenhum julgamento histórico. Mas é certo que o Pe. Júlio expressava bem uma posição que era a de grandes homens de Igreja naquele tempo, como o Pe. Leonel Franca, S.J. Era preciso - continua sendo preciso - catequizar os católicos, mostrar-lhes sua Igreja, as razões de sua fé e de sua esperança, de modo que eles pudessem decidir-se esclarecidamente, em moral e em doutrina.

O jornal de Manhumirim não queria desagradar nem ao padre, nem aos protestantes. Seu diretor pediu ao Pe. Júlio que escrevesse sobre outras coisas. O Pe. Júlio, porém, achou que os ataques protestantes ao culto de Nossa Senhora tinha sido espalhados entre os católicos e não podiam deixar de ser respondidos. Foi então que resolveu fundar um jornal e um jornal combativo, a que deu o nome de O LUTADOR. O primeiro número saiu em 25 de novembro de 1928 e nunca mais deixou de ser editado. As lutas de O LUTADOR variaram nesses mais de 80 anos, mas ele sempre lutou por algumas causas fundamentais para o Reino de Deus. Com linguagens diferentes, com enfoques diversos, mas sem perder de vista a meta final, os objetivos básicos.


(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]